quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A FESTA NO CÉU

Folclore brasileiro

Entre todas as aves, espalhou-se a notícia de uma festa no Céu. 
Todas as aves compareceriam e começaram a fazer inveja aos animais e outros bichos da terra incapazes de voo.  
- Que não tem pena não vai poder ir a ao Céu – berrava a Maritaca toda orgulhosa. 
Imaginem quem foi dizer que ia também à festa... O Sapo-Boi, que não querendo ficar pra trás, tratou logo de dizer: 
- Eu também vou. 
A Maritaca ficou surpresa: 
- Como?! Sapo não voa. 
- E precisa? 
- Como você é ignorante. Fala pros cotovelos. Onde já se viu sapo voar?  
Pois bem, o Sapo-Boi disse que tinha sido convidado e que ia sem dúvida nenhuma.  

- Sou convidado de honra do São Pedro. Ele me disse que não abre o portão do Céu enquanto eu não chegar. 
Os bichos só faltaram morrer de rir e Maritaca, então, nem se fala.  
   
Disparou a falar mal do Sapo-Boi. Dizia que ele era pesado e nem sabia dar uma corrida, seria capaz de aparecer naquelas alturas.  
- Sua língua, Dona Maritaca, não é feita de aço, mas ela corta uma navalha. 
Para não ter que brigar com a Maritaca, o Sapo-Boi saiu de perto, resmungando pra si mesmo: Essa Maritaca é como pernilongo, só cala o bico com um tapa. 
   
O Sapo-Boi tinha seu plano. Estão rindo de mim, mas não perdem por esperar. Duas palavras abrem qualquer porta: puxe e empurre. Vou nesta festa nem que tenho que pregar penas por todo o corpo.  

Tenho uma ideia: vou procurar o Urubu. Posso descolar uma carona. A esperteza é fazer isto com arte! Não há urubu que não cobiça uma boa carniça. Basta-me oferecer pra ele as carniças do brejo que ele me leva. São as pequenas coisas que fazem as grandes diferenças – assim foi pensando o Sapo-Boi. 
Na véspera da Festa do Céu, procurou o Urubu e deu uma prosa boa divertindo muito o dono da casa. Prometeu mundo e fundos pro carniceiro. Depois disse: 
- Você vai à Festa no Céu. 
- Vou sim. Todas as aves foram convidadas. Se você fosse uma ave, teria sido também – disse o Urubu.

O Sapo-Boi que era muito vaidoso e orgulho até os cabelos e, só pra não dar o braço a torcer, completou: 
  
- Bom, camarada Urubu, quem é coxo parte cedo e eu vou indo, porque o caminho é comprido. Tem que me apressar, ainda vou me arrumar para ir a Festa no Céu. 
O Urubu também ficou surpreso: 
- Você vai mesmo?  
- Se vou? Claro! 
- De que jeito? 
- Indo – respondeu o Sapo-Boi com sua bocarra escancarada, todo confiante. - Até lá, camarada Urubu, sem falta!  
   
Em vez de sair da casa o Urubu, o Sapo-Boi deu um pulo pela janela do quarto do Urubu e vendo a viola,  em cima da cama, meteu-se dentro dela, encolhendo-se todo, ajuntando bem as penas longas. Se você controla os pés, controla a mente. Ficou quietinho: Aqui me ajeito. Vou ou não vou na Festa?! Sempre 
tem um chinelo velho para um pé cansado.

O urubu, mais tarde, pegou na viola, amarrou-a a tira-colo e bateu asas para o céu, vrru-rru-rrum... O Sapo-Boi ficou na sua, bem amoitado no fundo da viola. 
   
Chegando ao céu, o Urubu arriou a viola em um canto e foi procurar as outras aves pra prosear.  
O Sapo-Boi botou um olhão de fora e, vendo que estava sozinho, ninguém pra xeretar, deu um pulo e ganhou a pista da Festa, todo satisfeito.  
   
Não queiram saber o espanto que as aves tiveram, vendo o sapo pulando no céu!  

Perguntaram e perguntaram curiosas: 
- Como você chegou até aqui? 
Mas o Sapo-Boi, esperto demais, só fazia conversa mole: 
- Chegando, uai. 
A Maritaca na acreditava no que via: tem carne escondida debaixo desse angu. Em terra de cego, quem tem um olho é rei, dois é deus e três é o diabo. Ainda descubro com esse bocudo veio parar aqui. 
A festa começou e o sapo tomou parte se exibindo o tempo todo. Nem pro Urubu ele quis contar. Foi até arrogante: 
- Eu não lhe disse que vinha? Cabra-macho não bebe água, masca fumo e engole a baba. 
Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do mesmo jeito da vinda, o Sapo-Boi foi-se esgueirando e correu para onde o Urubu havia deixado a viola. Encontrou a viola e acomodou-se, como da outra feita.  
   
O sol ia saindo, acabou-se a festa e os convidados foram voando, cada um para seu destino. O Urubu agarrou a sua viola e tocou-se para a terra, vrru-rru-rrum...  
   
Ia pelo meio do caminho, quando, numa curva, o sapo mexeuse e o urubu, espiando para dentro do instrumento, viu o bicho lá no escuro, todo curvado, feito uma bola. Só os enormes olhos brilhando. 
- Ah! camarada sapo! É assim que você vai à festa no Céu?  
- Uma carona não faz mal a ninguém – respondeu o Sapo-Boi, meio sem jeito.


- Então foi desse jeito que você veio? 
- Coác! Usando um pouco minha inteligência, né, camarada. 
O Urubu achou o Sapo-Boi muito folgado e, além do mais, ele contou muito papo na festa. Me fez de bobo. Se tivesse ao menos me contado. Merece um castigo – concluiu o Urubu. 
- Vou te jogar lá embaixo – avisou pro Sapo-Boi. 
- Cê tá louco?! – berrou o Sapo-Boi, escancarando o bocão. 
O Urubu estava decidido em atirar o Sapo-Boi lá de cima. 
- Pode escolher: quer cair no chão ou na água? 
O Sapo-Boi desconfiou da proposta: conhecendo o urubu, ele vai me pirraçar. Boca de mel, coração de fel. Vai me jogar onde eu não escolher. Para quem está se afogando, jacaré é tronco. Cachorro mordido de cobra tem medo até de lingüiça. 
Então, o Sapo-Boi querendo ser mais esperto que o Urubu, foi logo dizendo: 
- Me joga no chão mesmo. 
Urubu ficou surpreso com o pedido. Este sapo deve ter pirado. 
- Tem certeza que isso mesmo que você quer? 
- Claro, camarada Urubu – completou o Sapo-Boi, resmungo pra si mesmo: O destino não é uma questão de sorte, é uma questão de escolha.   
E, naquelas alturas, o Urubu emborcou a viola. O sapo despencou-se para baixo e veio zunindo. E rezava: - Coác! Se eu desta escapar, nunca mais boto as patas nas alturas! Nem 8 converso demais. É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é tolo, do que falar e acabar com a dúvida. 
   
E vendo as serras lá embaixo, berrou desesperado: 
- Coác! Arreda pedras!  
E as pedras não arredaram. O Sapo-Boi então pode concluir antes de esborrachar nelas: A esperança é um urubu pintado de verde.  
Bateu em cima das pedras como um tomate maduro, esparramando-se todo. Ficou em pedaços. 
Conta-se, lá pras bandas do brejo, que Nossa Senhora, com pena do infeliz sapo, juntou todos os pedaços do seu corpo esparramado nas pedras e o sapo viveu de novo.


Aprendeu uma sábia lição: Nosso verdadeiro inimigo está em nós mesmos. Não são os grandes planos que dão certo, são os pequenos detalhes. Não cuidei dos detalhes
   
- Por isso o sapo tem o couro todo cheio de remendos. A primeira vítima da ignorância é o próprio ignorante – explica a Maritaca, sempre com certa maldade nos olhos esverdeados toda vez que conta essa história. 


Esta história foi retirada do site e é muito interessante.
http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/infantis/download/a_festa_no_ceu.pdf 





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